5 de outubro de 2007

Dores Informa - Uma vez gordo ...


II - Uma vez Gordo...
(Sady Homrich)

Estou impressionado com a crescimento e repecussão do Blog Dores 70.! Muita gente comenta os posts. Chegaram a me perguntar se eu guardei anotações da época. Não, claro que não. Devo ter as cadernetas de notas (antes de existirem as agendas) em algum lugar, mas a lembrança de alguns episódios é bem viva, com cores, cheiros, sensação térmica, alegria e angústia. Claro que a memória também nos trai de vez em quando. Por exemplo: o segundo e terceiro anos estão, de um modo geral, embaralhados como se fossem um só na minha mente. Atribuo isso ao fato de ter sido o mesmo professor para ambos: o Ir. Valmir.
Éramos três irmãos. Magda, Ricardo e eu. Durante todo o primeiro ano primário o meu irmão (Ricardo, mais velho) me levava para o colégio, sempre após o almoço, e essa tarefa abnegada deveria ser um saco pra ele pois havia percorrido o mesmíssimo trajeto pela manhã para suas aulas do curso ginasial. Óbvio que tanto nos divertíamos quanto brigávamos, e a diferença de sete anos acabava favorecendo enormemente ao Bucky - como era chamado em casa e no colégio. Minha única opção era apelar para a chantagem emocional com os transeuntes - e abria o berreiro para verem quão vítima eu era da situação. Essa saída ardilosa criou um clima que forçou nossos pais a contratarem a "camionete" , serviço de tranporte que era articulado pelo Ir. Secretário Ângelo Menegat (o careca), para levar e buscar os alunos em casa. Explicar isso hoje parece um pouco imbecil, com tanto "ônibus-escolar" pelas ruas, mas na época era coisa pra poucos. O próprio Irmão pilotava uma veraneio flamante, dourada com cortinas marrom claro. Só que meu trajeto era realizado pela kombi do Clavius, meu vizinho que anos mais tarde me deu o meu primeiro emprego : vender leite, pão e martelinho na venda sob nosso prédio na Fernando Machado.
Ainda no início do segundo ano assisti a inusitada cena do Ir. Diretor entrando na sala, durante a aula, com algo parecido com uma gaita-ponto (depois descobri que era um instrumento de fole chamado concertina). Depois de um pigarro veio a melodia: "No Ginásio e no Colégio/Que reside a Mãe das Dores/ Temperamos nossa mente/Para todos os labores... " Foi a primeira vez que escutei o Hino do Colégio, que estava transcrito na última página da caderneta. Mas a imagem do Ir. Hugo Rempel ficou gravada como a de um super-herói: o Bat-Fink. Os colegas das turmas mais adiantadas faziam essa analogia com muita propriedade e só seria um desrespeito SE ele soubesse... Quando o Ir. Hugo passeava nos corredores, poderia, às vezes, se ouvir um falsete: "Bat-Fink" , de algum colega mais sacana escondido. Só os mais velhos vão lembrar desse desenho animado, e da semelhança que havia entre o nosso diretor e o morcego protagonista.
Os momentos de espera até a saída da camionete tinham um gostinho todo especial. Ficávamos brincando no pátio à espera dos que saiam mais tarde e aguardando uma figura muito impressionante: o Emilião. Ninguém se atrevia a falar com ele. Apenas fitávamos aquele gigante que vinha, invariavelmente, com três bolas nos braços. Generoso, lançava as pelotas para que nos dividíssemos em times para jogos relâmpago. Ficava pensando se algum dia teria que enfrentá-lo numa sala de aula...
Num desses finais de tarde, eu descia as escadas apressado pra pegar lugar em algum time, mas vi vários colegas comendo cachorro-quente, a maior iguaria da Cantina Dorense (que ficava sob a Área Coberta). Indaguei-os e me disseram que haviam ganho do pai do Carlinhos. Corri como um morto de fome e encontrei o seu Remi já pagando a conta e não me fiz de rogado: "Também sou amigo do Carlos Eduardo. O Sr. não vai me dar um cachorro-quente ?" O seu Remi não conteve o riso e me convidou, gentilmente, para um lanche. O seu Antoninho e o Júlio, que atendiam na cantina, gostaram da minha impetuosidade e ficamos amigos, tanto que depois eu os ajudava a atender as longas filas que se formavam no recreio em busca de uma Pastelina ou um pastel com uma Pepsi para a merenda. Minha remunera-ção era um prensado de queijo e mortadela com um refri. Perfeito!
Anos depois, já com o Nenhum de Nós, num churrasco na casa dos pais Carlão em Capão Novo, a história do cara-de-pau foi lembrada, na versão adulta !!! Uma vez gordo, sempre glutão...

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